Maternidade é principal causa de diferença salarial entre homens e mulheres

Quando homens e mulheres concluem os estudos e começam a trabalhar, eles e elas ganham quase o mesmo salário. Mas logo aparece uma diferença salarial, que cresce de maneira significativa nas duas décadas seguintes.

 

Qual é o motivo da mudança? Podemos encontrar a resposta quando olhamos para o momento em que a diferença salarial entre homens e mulheres aumenta mais bruscamente: dos 20 e muitos aos 30 e poucos anos, de acordo com dois novos estudos. Ou seja, quando muitas mulheres têm filhos. Mulheres solteiras e sem filhos continuam ganhando quase a mesma coisa que os homens.

 

O grande motivo pelo qual os filhos – ou simplesmente o casamento – deprecia o salário das mulheres em relação ao dos homens é que a divisão do trabalho doméstico continua desigual, mesmo que ambos os cônjuges trabalhem em período integral. Isso vale especialmente para mulheres com formação universitária e em cargos bem remunerados: os filhos são particularmente prejudiciais para suas carreiras.

 

Mas as pesquisas mostram que as mulheres casadas e sem filhos também ganham menos, porque é mais provável que elas abram mão de oportunidades de emprego para se mudar, ou permanecer no mesmo lugar, por causa do trabalho do marido. Além disso, mulheres casadas podem ficar em empregos menos intensos enquanto se preparam para ter filhos, e os empregadores nem sempre lhes atribuem mais responsabilidade, pois pressupõem que elas terão filhos e passarão um tempo em casa.

 

“Uma pessoa se concentra na carreira, e a outra faz a maior parte do trabalho em casa”, disse Sari Kerr, economista do Wellesley College e autora de ambos os estudos. Um deles será publicado pela American Economic Review deste mês; o outro foi divulgado como trabalho preliminar pelo National Bureau of Economic Research. As demais pesquisadoras responsáveis pelos estudos são Claudia Goldin, da Universidade de Harvard, Claudia Olivetti, do Boston College, e Erling Barth, do Institute for Social Research (Instituto de Pesquisas Sociais) de Oslo.

 

É natural que os casais decidam que a pessoa que ganha menos, normalmente a mulher, cuide mais da casa e dos filhos, disse Sari Kerr. Mas é exatamente por isso que as mulheres começam a ganhar menos. “Isso reforça a diferença salarial no mercado de trabalho. Estamos presas nesse ciclo que se alimenta”.

 

Algumas mulheres passam a trabalhar menos depois de terem filhos, mas, muitas delas, não. E, ao que parece, os empregadores lhes pagam piores salários também por presumirem que elas ficarão menos comprometidas com a empresa.

 

Mesmo quando as mães reduzem as horas de trabalho, elas continuam ganhando menos, em termos proporcionais. Se seu salário é calculado com base nas horas trabalhadas, elas recebem menos que os homens pelas horas que eles trabalham, como Claudia Goldin demonstrou em um outro estudo.

 

Os empregadores pagam desproporcionalmente mais para as pessoas que trabalham muitas horas e desproporcionalmente menos para aquelas que trabalham com mais flexibilidade, em especial nos empregos que exigem diploma universitário.

 

Para conseguir maior equidade salarial – sem que as mulheres tenham de evitar o casamento e os filhos -, as cientistas sociais dizem que precisam acontecer mudanças nos locais de trabalho e nas políticas públicas que se aplicam a homens e mulheres. Bons exemplos são as empresas que dão menos prioridade às longas jornadas e ao trabalho presencial, e os governos que subsidiam os cuidados com as crianças e garantem licenças mais equilibradas entre pais e mães.

 

Segundo os dados da pesquisa de Sari Kerr, mulheres com formação universitária ganham cerca de 90% do salário dos homens aos 25 anos de idade e apenas 55% aos 45 anos.

 

O novo estudo, que acompanhou um grupo maior de pessoas ao longo do tempo, revelou que, entre 25 e 45 anos, a diferença salarial entre homens e mulheres com diploma universitário começa perto de zero e se amplia para 55 pontos percentuais. Entre homens e mulheres sem diploma, a diferença aumenta 28 pontos percentuais.

 

Boa parte dessa diferença salarial se abre nos primeiros anos da carreira, enquanto as mulheres estão cuidando dos filhos. O artigo da American Economic Review, que estuda pessoas nascidas por volta de 1970, revelou que quase metade de toda a diferença salarial das mulheres com diploma universitário ocorre entre 26 e 33 anos de idade.

 

As pesquisadoras utilizaram dados demográficos do Censo de 2000 e históricos de trabalho de 1995 a 2008 do estudo longitudinal de Dinâmicas Empregadores-Domicílios, do Census Bureau dos Estados Unidos, que cobre companhias do setor privado. Esses conjuntos de dados quase não haviam sido combinados, o que permitiu às pesquisadoras conectar históricos profissionais a dados demográficos como idade, formação, estado civil e natalidade.

 

A diferença salarial é maior para as mulheres com formação universitária porque seus salários são maiores, e os homens dominam os empregos de melhor remuneração. Esses empregos também tendem a valorizar jornadas de trabalho mais longas e inflexíveis.

 

As pessoas sem diploma universitário começam com uma diferença salarial um pouco maior, mas a disparidade é menos acentuada ao longo da carreira. Parte da explicação é que os homens com poucos anos de estudo têm hoje menos opções de empregos bem remunerados. “A diferença salarial não é menor porque as mulheres sem diploma estão ganhando bem, mas porque os homens sem diploma estão ganhando mal, disse Kerr.

 

As economistas descobriram que 27% de toda a diferença salarial decorrem do fato de os homens terem mais chance de migrar para empresas que pagam melhor. Quando as mulheres casadas saem de um emprego, é menos provável que seja por um belo aumento. Pesquisas anteriores mostraram que elas estão mais propensas a deixar um emprego sem ter outro em vista: as mulheres casadas normalmente se mudam de cidade por causa da profissão do marido, ou então deixam o trabalho para ficar com os filhos.

 

Mas a maior parte da diferença salarial – 73%, segundo as pesquisadoras – decorre do fato de as mulheres não receberem aumentos nem promoções no mesmo ritmo que os homens. Idade e experiência parecem valer muito mais para eles do que para elas.

 

“As mulheres estão ficando com a pior parte, em todos os aspectos”, disse Sari Kerr. “Seja mudando de emprego ou tentando ficar na mesma empresa, seus ganhos são sempre menores”.

 

Um homem médio com diploma universitário melhora seus salários em cerca de 77% dos 25 aos 45 anos de idade, enquanto uma mulher em situação similar aumenta seus ganhos em apenas 31%. Os homens sem diploma recebem aumentos de salário muito mais rápido que as mulheres durante a primeira década da carreira, mas elas os alcançam até os 45 anos de idade.

 

No entanto, mesmo que as mulheres recuperem a diferença, elas acabam pagando o preço a longo prazo, pois perdem uma quantia significativa de dinheiro – em salários, aumentos e poupança para a aposentadoria – ao longo do caminho.

 

(Fonte: The New York Times, via O Estado de S. Paulo)

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